Neste artigo quero contar-lhes a história de um dos protagonistas absolutos da “comida de rua” brasileira: a coxinha.
A história é interessante e curiosa, especialmente porque está inserida em um contexto bem longe do esplendor que se poderia imaginar em uma família real como a luso/brasileira. Estamos em meados do século XIX, o Rio de Janeiro é a capital do império português com o Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Dona Teresa Cristina de Bourbon, de origem napolitana (uma curiosidade: nunca na história aconteceu, a não ser no Rio, que uma cidade colonial se tornasse a capital do império ao qual a colônia pertencia). O imperador Dom Pedro II e a imperatriz Dona Teresa Cristina eram pessoas simples, avessas a qualquer tipo de luxo, e as refeições do palácio eram normalmente caracterizadas pela frugalidade. Diz-se que os três netos do casal imperial, Dom Pedro de Alcântara, Dom Luiz e Dom Antonio, filhos da princesa Isabel, gostavam de coxas de frango. Um dia o filho mais velho Dom Pedro de Alcântara, um amante do frango frito, estava atrasado para seu lanche. Como o príncipe não estava presente, seus irmãos mais novos, os príncipes Dom Luiz e Dom Antônio, cada um comeram uma das coxas do frango. Quando o irmão mais velho chegou e descobriu que as coxas que ele queria não estavam mais lá, começou a chorar – as crianças são sempre crianças! – e foi reclamar com sua avó, dizendo que seus irmãos não tinham respeitado seu “direito de nascimento”.
A imperatriz Therese-Christina ouviu tudo e tranquilizou seu neto dizendo: “Vá brincar mais um pouco e a avó consertará tudo”. As avós também são sempre avós! Então Sua Majestade encontrou uma solução: ela picou um pouco de peito de frango, fez uma mistura de farinha, misturou com o frango picado, envolveu-o na farinha de rosca, amassou tudo junto com as mãos em forma de coxa, colocou um osso fino na ponta e levou-o para a frigideira para fritar.
Em poucos minutos, nasceu a “coxinha”, pronta para ser degustada pelo pequeno príncipe. Foi um grande sucesso, e até Sua Alteza conseguiu provocar seus irmãos, dizendo que “a coxa de frango da avó” era muito mais saborosa. Desde então, as três crianças imperiais, na hora do lanche, só queriam comer “a coxa de frango feita pela avó para o irmão Pedro”.
A história da coxinha foi passada verbalmente desde o fim do império até o início do século XIX e depois quase esquecida, mas além de sua origem a coxinha entrou na vida e na cultura gastronômica de todos os brasileiros até hoje. Hoje as coxinhas não são mais apresentadas com o osso e são enriquecidas com variações de sabores diferentes (camarão, sirí, legumes, queijo e outros), mas apesar disso a certidão de nascimento oficial continua a ser italiana!
(História baseada em um trecho do livro “Sua Majestade Imperial Thereza Christina Maria de Borbone e Bragança – ‘A Mãe dos Brasileiros'”, do Prof. Rogério da Silva Tjäder).
Até breve!
Marcello