O futebol é, sem dúvida, um esporte pelo qual o Brasil é famoso em todo o mundo. O futebol é parte integrante da cultura do povo brasileiro e ainda mais no Rio de Janeiro, onde não creio que haja uma pessoa, homem ou mulher, velho ou jovem, que não tenha um time, assim como uma escola de samba, em seu coração.
Essa importância é compreensível por várias razões: o futebol aqui representa um fenômeno social que vai além do simples aspecto esportivo (quantos campeões de ontem e de hoje, para dar um exemplo, nasceram e cresceram nas favelas antes de tomarem o caminho da riqueza e da celebridade internacional); o Rio de Janeiro abriga uma das equipes mais premiadas do mundo, o Flamengo; há alguns anos atrás o Rio foi sede da Copa do Mundo pela segunda vez, e para unir e exaltar tudo isso está ele: o Maraca.
Não é minha intenção fazer um artigo histórico, arquitetônico ou puramente esportivo sobre o Maracanã, porque houve livros e documentários que certamente o fizeram muito melhor e mais amplamente do que eu poderia fazer. Portanto, me limitarei a dar uma notícia de algumas semanas atrás que abriu um debate bastante aceso nas redes sociais e nos jornais brasileiros, tendo também o mérito de ter colocado em segundo plano por alguns momentos a pressão diária e onipresente da mídia sobre o Covid-19.
A discussão surgiu da proposta de mudar o nome do estádio, dando-lhe o nome do “deus” do futebol mundial, Pelé. Faço uma pequena digressão relacionada ao fato de que usei o termo – deus – referente a Pelé. Pessoalmente, não tenho dúvidas de que Pelé foi o maior jogador de todos os tempos e é indiscutível que o Brasil o considera um mito absoluto. Em 2013, durante a Journada Mundial da Juventude realizada no Rio, o Papa Francisco, que como todos sabem é argentino, conseguiu imediatamente ganhar a simpatia dos milhões de peregrinos, referindo-se à rivalidade futebolística entre Brasil e Argentina e declarando: “Aqui dizem que Deus é brasileiro, mas pelo menos espero que vocês queiram aceitar que o Papa é argentino”!
Mas voltemos à votação histórica para renomear o templo mundial do futebol: há algumas semanas a câmara estadual dos deputados do Rio de Janeiro votou a favor da proposta dos deputados de vários partidos de mudar o nome de “Estádio Mario Filho”, popularmente conhecido como Maracanã, para “Estádio Rei Pelé”. Para aqueles que não conhecem exatamente a história do estádio, quero apenas dar um breve resumo: quando o Rio de Janeiro recebeu a Copa do Mundo em 1950, surgiu a necessidade de construir um estádio impressionante que pudesse ser digno do evento. A idéia inicial era construí-lo em uma área periférica na zona norte do Rio, mas o jornalista esportivo e comentarista de futebol mais famoso da época, Mario Filho criticou fortemente esta escolha e reuniu um grande grupo de pessoas influentes na então capital do Brasil para escolher o local em uma área mais central e facilmente acessível de todos os cantos da cidade. A pressão foi tal que o projeto inicial foi modificado e o bairro Maracanã foi escolhido (um bairro que ainda hoje é estrategicamente importante como ponto de intersecção entre o centro, o norte e o sul do Rio), utilizando a área anteriormente ocupada por um hipódromo.
O estádio foi inaugurado em 1950 com o nome de “Municipal”, mas em 1964 foi renomeado “Mario Filho” em homenagem ao homem que esteve tão fortemente comprometido com sua construção. Ao longo dos anos, no entanto, o estádio começou a ser conhecido como “o Maracanã” e este nome ainda continua a identificar popularmente e internacionalmente esta estrutura que na final da copa de 1950 recebeu quase 200.000 pessoas. Ao longo dos anos foi palco de eventos “planetários” históricos, como a visita do Papa João Paulo II em 1980 e 1987, o concerto de Frank Sinatra em 1980 (180.000 espectadores), os shows de Tina Turner e Paul McCartney (182.000 espectadores) ou o show do A-Ha em 1991 (198.000 espectadores), só para citar alguns.
Chegamos a hoje quando, após ser o principal local da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 e ter passado por várias reformas, nasceu o projeto para renomeá-lo como “Rei Pelé” prestando homenagem ao maior campeão brasileiro de todos os tempos, que no Maracanã consagrou sua fama mundial em 1969, marcando o milésimo gol de sua carreira. Como mencionado no início, esta votação da Câmara dos Deputados gerou várias críticas e a lei ainda terá que ir até a assinatura final do governador. Naturalmente, não é o valor e os méritos de Pelé que estão em discussão, mas a possibilidade de que o homem que desejava fortemente aquele estádio e pelo qual ele dedicou todas as suas energias por muitos anos, seja definitivamente esquecido.
Veremos nos próximos meses qual será a decisão final, mas pessoalmente, e falando de uma perspectiva puramente turística e de imaginação coletiva, penso que a nível internacional o Estádio – Rei Pelé – poderia ter um caráter muito atraente, sem esquecer o jornalista Mario Filho, a quem sem dúvida dedicaria uma estátua na entrada principal. Seja como for que você queira chamá-lo, acho que para todos os turistas apaixonados por futebol uma visita ao Maracanã é uma obrigação, pelo menos para admirar a grandeza de seu exterior e se possível conhecer o interessante museu interno com uma visita ao campo de jogo e aos vestiários (no momento em que se escreve o museu está infelizmente fechado por razões de segurança relacionadas com a pandemia).
Até breve e votos sinceros de uma Páscoa feliz para todos!
Marcello