Talvez nem todos saibam disso, mas em 1565, na época de sua fundação, o Rio de Janeiro foi chamada de ‘São Sebastião do Rio de Janeiro’. Até este ponto, tudo pode parecer normal, considerando a devoção católica dos portugueses daquela época.
Entretanto, a história é um pouco mais complexa e curiosa, na minha opinião típica de uma cidade tão especial quanto o Rio de Janeiro.
Comecemos pelo início: o nome -São Sebastião – que foi dado ao Rio não se referia ao mártir cristão que morreu em 287 d.C., mas era uma homenagem ao Rei-menino Sebastião de Portugal e do Algarve, que tinha apenas 9 anos de idade quando a cidade do Rio foi fundada…
Deve-se dizer também que a data oficial da fundação da cidade não foi 20 de janeiro, dia de São Sebastião, mas o 1° de março de 1565!
Por que, então, comemorar um santo que realmente não tinha muito a ver com o Rio de Janeiro?
Na verdade, há algumas razões para isso, além da ligação direta do nome do santo com o nome original da cidade.
Para explicar isto, vou lhes contar brevemente a história do Santo:
São Sebastião foi um mártir nos primeiros séculos da Igreja Cristã por professar e não negar sua fé em Cristo.
São Sebastião nasceu em Narbonne, França, em 256 DC. Quando jovem, ele se mudou com sua família para Milão, a cidade natal de sua mãe. Ele entrou para o exército romano e tornou-se o soldado favorito do Imperador Diocleciano. Ele ganhou o posto de comandante da Guarda Pretoriana.
Sebastião se converteu secretamente ao cristianismo e, aproveitando sua alta patente militar, fez frequentes visitas a prisioneiros cristãos à espera de serem levados ao Coliseu, onde seriam devorados por leões ou mortos em combate de gladiadores. Com palavras de encorajamento e consolo, ele fez os prisioneiros acreditarem que seriam salvos na vida após a morte, de acordo com os princípios do cristianismo.
A sua reputação de benfeitor dos cristãos se espalhou e Sebastião foi denunciado ao imperador. O Imperador, que perseguia os cristãos em seu exército, tentou fazer Sebastião renunciar ao cristianismo, mas diante do Imperador Sebastião não negou sua fé e foi condenado à morte.
O seu corpo foi amarrado a uma árvore e atirado com flechas por seus antigos companheiros, o que o deixou aparentemente morto. Resgatado por algumas mulheres lideradas por uma mulher cristã chamada Irene, ele foi tomado sob seus cuidados e conseguiu se recuperar.
Após a sua recuperação, São Sebastião continuou a evangelizar e, indiferente aos pedidos dos cristãos de não se expor, foi ao Imperador insistindo para que ele pusesse fim à perseguição e assassinato dos cristãos. Ignorando seus pedidos, desta vez Diocleciano ordenou que ele fosse açoitado até a morte e seu corpo jogado no esgoto público em Roma, para que não fosse venerado como um mártir pelos cristãos. Era o ano 287.
Mais uma vez, seu corpo foi recolhido por uma mulher chamada Luciana, a quem ele pediu em um sonho para enterrá-lo perto das catacumbas dos apóstolos. No século IV, o imperador Constantino, que havia se convertido ao cristianismo, mandou construir em sua honra a Basílica de São Sebastião, perto do local de sepultamento da Via Ápia, para abrigar seu corpo.
Diz-se que, naquela época, Roma foi assolada por uma terrível peste e que desde a transferência das relíquias de São Sebastião, a epidemia desapareceu. A partir de então, São Sebastião foi venerado como o santo patrono contra a peste, a fome e a guerra.
Durante a Idade Média, a igreja a ele dedicada tornou-se um centro de peregrinação e ainda recebe devotos e peregrinos de todo o mundo. A sua festa é comemorada no dia 20 de janeiro.
Voltemos agora a 1565, quando as tropas portuguesas venceram a batalha final contra as tropas francesas que ocupavam a região interior da Baía de Guanabara (elas estavam instaladas em uma pequena ilha na baía em frente ao que hoje é o aeroporto Santos Dumont, no centro da cidade). O comandante das tropas portuguesas foi Estácio de Sá e foi ele quem ‘batizou’ a cidade prestando homenagem ao rei Sebastião de Portugal. Entretanto, esta batalha não expulsou finalmente os franceses do Rio, e a luta continuou por pelo menos dois anos. Foi durante um confronto com os índios Tamoios, que eram aliados dos franceses, que Estacio de Sá foi gravemente ferido. Como? Por uma flecha (como São Sebastião). Quando: 20 de janeiro (Dia de São Sebastião)!
Estácio morreu em 20 de fevereiro, mas a esta série de coincidências se soma uma lenda de que o próprio São Sebastião apareceu com uma espada na mão para lutar ao lado dos portugueses na expulsão dos franceses durante a Batalha de Aruçumirim, em 20 de janeiro de 1567, no mesmo dia em que Estácio de Sá foi atingido pela flecha que o mataria. Sebastião, um santo católico nascido na França ao lado dos portugueses que lutavam contra os franceses calvinistas…
O campo de batalha estava localizado no que hoje é o distrito de Glória. 600 índios Tamoios e 5 franceses morreram na batalha de Uruçumirim, e 10 franceses foram enforcados no dia seguinte à batalha. Esta batalha consolidou definitivamente o domínio português na cidade e os franceses foram finalmente expulsos.
É sem dúvida uma história interessante cheia de coincidências. O fato é que a festa de São Sebastião ainda é muito sentida pelo povo do Rio e a sua estátua adorna o altar central da Catedral Metropolitana junto com a de Santa Ana.
O lugar onde a cidade foi fundada é um dos mais lindos do Rio, bem ao lado do Pão de Açúcar. Durante a subida de teleférico sempre gosto de recontar estes aspectos históricos do Rio, que enriquecem o fantástico panorama do topo com algumas informações que muitos turistas não conhecem.
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Até breve
Marcello
Gostaria de agradecer à professora Dilva Frazão do site -ebiografia.com- por todas as ricas informações que ela apresentou sobre a vida de São Sebastião